segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Siamo arrivati a Roma.

29 de fevereiro de 2016. 
Exatamente 60 anos depois que meus avós por parte de mãe vieram para o Brasil, ainda de navio, eu pego um avião com o meu marido e faço o caminho inverso. 

Não foi fácil me despedir dos meus pais e meu irmão no aeroporto. Minha tia, irmã da minha mãe, chegou depois com meu primo. O coração apertou na hora do tchau, a felicidade e a ansiedade de sair do Brasil para viver o novo, dão lugar a um sentimento estranho, que eu ainda não sei explicar.



Quando eu souber como é ficar meses longe das pessoas que mais amo nessa vida eu explico, desta vez, só consigo descrever como foi sentir o coração apertar ao ver minha mãe chorando enquanto me abraçava, me beijava, colava o rosto no meu e segurava minha mão. Foi triste vê-la assim. 

Por nenhum momento me questionei acerca da decisão que tomamos, em nenhum momento tive vontade de ficar. A única vontade que tinha era a de levá-los comigo, mas quem sabe um dia, né? 

Um passo de cada vez. 

Estávamos quase chegando na costa africana quando eu disse para o meu marido: "na volta, vamos pegar um lugar no corredor, odeio ter que ficar pedindo licença para ir ao banheiro". 

Ele respondeu: "Marina, que volta?"

Depois de uma risada, falei: "É, a ficha ainda não caiu". 

No voo conhecemos uma senhora, a mesma que eu tive que acordar várias vezes para poder levantar. Brasileira, que vive há 40 anos na Itália, já até esqueceu o português e mistura as duas línguas enquanto fala: "Allora, io vim da Itália, per vedere os meus parentes". Adora a Itália e disse que não tem vontade de voltar pro Brasil. Tem dois filhos e marido. Deixou a nossa querida pátria com 24 anos. 

Eu tenho 27, será que se ficar 40 anos na Itália também esqueço o português? Hahahaha. Vamos ver...

Adoro as comidas de voo internacional, até una Birra Moretti quente tomamos. 



Escrevi este texto dentro do avião, logo depois de uma turbulência no meio do oceano atlântico.  


Neste momento estamos aqui na sala de embarque esperando o voo para Perugia, que partirá as 10:30 da manhã, 6:30 no Brasil, usando o Wi-Fi ilimitado do aeroporto. 

Agora seremos eu e meu marido! Tenho certeza que isso nos fortalecerá, ainda mais, como casal. 

Mantenho todos vocês atualizados.

Baci 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Aprenda a voar.

Como vocês já perceberam no meu último post (O dia em que deixei de ser advogada...), deixei de me interessar pela advocacia e resolvi ir atrás de algo que me faça bem, que faça com que meus olhos brilhem novamente. 

O que mudou em mim? Deve ser a maturidade, que tem uma influência muito positiva sobre nós.


Muitas pessoas tem vontade de deixar o que fazem hoje, de mudar de vida, mas não sabem como começar ou como viabilizar essa mudança, que pode ser de profissão, de estilo de vida, de cidade, de estado ou de país. Bom, vamos com calma!


A primeira coisa que se deve fazer é parar e olhar tudo ao seu redor:

Como está sua vida hoje? 
O que você faz, te faz feliz ou te faz acordar mal humorado todos os dias, e viver a semana esperando ansiosamente pela sexta-feira a noite? 
Você tem a famosa depressão de domingo a noite?

Reflita: no seu dia-a-dia, em todos os aspectos, quantos são os momentos que você deseja que demorem para acabar? Aqueles em que você está tão feliz, que torce para que passem lentamente. 


Não quero te dar uma má notícia com este post, mas, de repente, as coisas podem não estar tão bem quanto você pensa.

Infelizmente não há milagre, não pense que eu tomei minha decisão, cheguei no meu chefe e disse: "então, até nunca mais." ou "valeu, foi bom, adeus". E fiquem tranquilos, que também não pretendo me alimentar de energia solar, cancelar meu celular ou morar num albergue. Muitos pensam: "Ah, é fácil ter coragem para largar tudo, quero ver pagar as contas".

E eu digo uma palavra: planejamento.

Se você quer um tempo para reorganizar suas ideias, se planeje para isso.

Pesquise cursos de coaching pessoal, guarde um pouco do seu salário por mês, não gaste com supérfluos. Digo por experiência própria, pois antes de pagar o meu casamento, ficava todos os meses no limite, quase entrando no cheque especial. Quando surgiu a ideia de fazermos a festa, pensei: "nunca vou conseguir guardar dinheiro, meu salário não dá para isso".

Então tive que começar a pagar o meu casamento, e tirar R$ 3.000,00 por mês para tanto. Comecei a perceber que eu conseguia, sim, guardar dinheiro. A economia vem de todos os lados, não comprei aquele batom que eu queria, não comprei aquele creme da Nivea na farmácia que estava em promoção, reduzi a cobertura do meu plano de saúde (minha mãe vai me matar agora) e diminui meu plano de internet no celular.

E no fim, não é que eu consegui? Depois de 14 meses, este mês paguei a minha parte da última parcela do casamento.

Isso que acabei de contar, serve apenas para exemplificar que a gente pode, quando a gente quer. E não pense que estamos tendo ajuda da família para sair do Brasil, todo o dinheiro que estamos levando é nosso.
   
Tem gente que espera tanto a coragem chegar, que ela acaba nem vindo. O arriscado está fora da nossa zona de conforto, não é palpável. A certeza é onde moram as pessoas que tem medo de se arriscar, e a vida é vivida como se fôssemos um pássaro na gaiola.
 
Não espere ser demitido;


Não espere ter uma doença;


Não espere algo mudar pelo acaso;


Não se sabote! Afinal, o pássaro que passa a vida na gaiola, nunca aprende a voar.

Não deixe que suas asas atrofiem.





quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

O dia em que deixei de ser advogada...



Como já ouvi, advogada serei pra sempre. 

Em partes sim, pois me formei, tenho OAB (mesmo cancelada, posso pedir minha inscrição de volta quando quiser, sem precisar fazer a prova novamente), me pós graduei, e foram quase 10 anos trabalhando na área.

Na verdade, não sei como, e nem lembro quando, aquilo que eu fazia deixou de fazer sentido pra mim. Aconteceu! Como uma paixão cuja chama se apaga, como um caminho que deixa de ser a direção certa, ou alguém, como eu, que não sente mais prazer naquilo que escolheu para fazer, e que, a princípio, deveria ser para o resto da sua vida.

Independentemente dos motivos que me levaram a essa decisão, ela foi tomada.

A advocacia é muito mais bonita vista de fora, profissão pomposa.

As petições se resumem a copiar e colar, as decisões também não fogem disso. 

Juízes acham que são Deus e desembargadores têm certeza disso. 

Sistema lento, falho e desorganizado. Aqui, como dizem, cada cabeça é uma sentença, independente do que está escrito no código. 

Escritório grande luta para se manter organizado e manter o nível de seus advogados, mas dificilmente paga mais do que R$3.000,00 para a maioria. Prazo bom, é prazo cumprido. 

Qualquer escritório pequeno, com menos de 20 pessoas, se autodenomina butique, com uma forma de escrita peculiar, cujo advogado, concordando ou não, deve se adequar. E experimente colocar uma vírgula fora do lugar.

Em empresa, torça para não ser promovido, ou começará a saber de muita coisa que não deveria saber, até você começar a ser inconveniente pra muitos. 

"Dar carteirada" - como falamos no meio jurídico - é o fim, meu Deus, salve essa pobre alma. Para os "leigos", esse ato consiste em ser um advogado que acha que pode fazer o que quiser apenas por possuir uma carteira da Ordem dos Advogados do Brasil. 

"Uowwww, cuidado com ele, ele é foda". 

Quando vejo alguém falando "você sabe com quem está falando? Vou te processar", dá uma vontade de exorcizar.

Fora a própria OAB, que custa, aqui em São Paulo quase R$1.000,00 e, em troca, você pode pegar cafezinho frio e sem açúcar nos fóruns. 

Pois é, acho que acabei expondo alguns motivos...  

"E o que você quer ser?". A resposta é: "feliz". Quero fazer aquilo que me dê prazer, que faça com que meus olhos brilhem, como um dia a advocacia foi pra mim, mesmo sabendo que uma moleca se escondia atrás daquele terninho ou daquele vestido social.

Talvez eu precise desse tempo pra ver se vou sentir falta. De repente, fico dois ou três anos sem advogar e penso: "eu quero voltar", como também posso pensar "não quero voltar mesmo", mas isso só o tempo dirá.  

Assumir minha decisão já foi uma vitória pra mim. Eu me permiti!




terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Colocando a vida em 64 kg - parte 1

Salve, come stai?

Ontem foi dia de arrumar a primeira mala e começar o desapego. Gente, como é difícil, mas é um bom exercício, e aconselho mesmo para quem não vai se mudar. Experimentem!

Primeiro passo: tirei minhas roupas do armário e joguei tudo em cima da cama. A primeira seleção foi para eliminar a quantidade excedente. Olhava para uma peça de roupa e pensava: "quantas vezes já te usei?" e "há quanto tempo não te uso?". Com isso, já consegui me desfazer de muita roupa.

Se você não vai mudar de país e só quer fazer uma limpa no seu armário, acho que pode parar por aí. No entanto, caso você tenha que usar 64 kg para sua mudança, você tem que ir além, e eu fui.

Segundo passo: só voltou para o armário o que vai viajar comigo. O exercício de desapego deve ser completo, nada de pensar: "ah, vou guardar essa blusinha aqui, vai que eu queira usá-la um dia...", se quisesse teria usado, mas não usei. Com essa estratégia, consegui separar apenas umas trinta blusinhas de verão para levar, de um quantitativo que era quase o triplo disso. Assim deve ser com tudo. Sapato, por exemplo, consegui separar 2 pares para levar comigo, de 89 sapatos de salto alto.

A mala que fizemos ontem foi preenchida com casacos para o frio, meus e do meu marido, um cobertor de casal, cachecóis, luvas e gorros. 

Comprei nessas lojas que vendem de tudo, um saco organizador que comprime o volume das roupas. Pra ser bem sincera, ele promete mais do que realmente é. Se quiser economizar, pois esse saco compressor custa, em média, R$ 20,00 cada, compre um rolo de plástico filme, enrole suas roupas com força, e aperte lentamente para que o ar saia aos poucos. O efeito será praticamente o mesmo.

Em todo caso, se alguém gostou da ideia, segue a imagem do VAC BAG:


Quando acabei de arrumar a mala com meus casacos, não havia mais espaço para os do meu marido. Solução: desapegar. Tirei tudo da mala de novo e coloquei sobre a cama.


Um dos meus pacotinhos de casacos estava com 3 jaquetas rosas e 3 pretas. Depois da nova seleção: 1 rosa e 1 preta.

Outro pensamento que se deve ter também é: casaco comprado para o inverno brasileiro, não serve para o inverno europeu, no máximo para meia estação. Na Europa, inclusive, os casacos são mais baratos e, em época de promoção (fevereiro), por exemplo, você consegue comprar uns bem quentinhos por  10-15 euros.

Bom, no fim, tira daqui, coloca dali, descarta isso, deixa esse... FATTO! Nossa primeira mala rumo à nova vida está pronta, momento que foi compartilhado até no Snapchat (rssss...).








 


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Reconhecimento do casamento na Itália.

Há duas maneiras de reconhecimento do casamento do cidadão pela Itália:

1)  No Brasil: o cidadão deve encaminhar sua certidão de casamento legalizada para o consulado competente (Legalização de documentos no consulado italiano), para o setor de Stato Civile, e requerer o reconhecimento do casamento para alteração de estado civil na Itália.

Esse processo todo - do envio da sua certidão legalizada, até o reconhecimento pela Itália - deve durar, em média, de 3 a 4 meses, podendo variar para mais ou para menos, dependendo do estado do consulado e da Comune do cidadão.
 
2)  Na Itália: o cidadão deve levar a certidão de casamento legalizada até a sua Comune (verifique no seu passaporte italiano), e requerer o reconhecimento do casamento diretamente na questura (delegacia), o que será feito na hora. Isso mesmo, o que demora meses aqui no Brasil, lá na Itália você faz na hora.

No meu caso, consegui legalizar a certidão de casamento apenas 1 mês antes da data da viagem, pois tudo o que expliquei no post anterior, tive que aprender na prática. Assim, meu reconhecimento do casamento será realizado da segunda maneira: diretamente na Itália.
 
Para os desesperados de plantão: a necessidade de reconhecimento do seu casamento, para fins de requerimento de Permesso di Soggiorno, vai depender das exigências da questura da Comune em que você vai morar. A princípio, como se verá no próximo post, apenas a certidão de casamento legalizada basta para comprovar o vínculo do estrangeiro com o cidadão.

Em todo caso, é sempre bom se informar já no primeiro dia, para que você tenha tempo hábil de reconhecer seu casamento e dar entrada no Permesso di Soggiorno do seu conjugê.






sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Organizando a vida financeira.



Como toda grande mudança, organizar a ida para outro país requer contenção de gastos, mas para mim e para meu marido a situação ainda é um pouco pior, pois estamos pagando uma festa de casamento dos sonhos, que acontecerá dois dias antes de embarcarmos de mala e cuia para a nossa nova vida.

"Vocês são malucos?" - Já escutamos diversas vezes. Pois é, acho que um pouco.


Fizemos as contas com base no custo de vida mensal de um casal em Perugia, que gira em torno de 700 a 800 euros, segundo informações de moradores da cidade. Assim, nosso dinheiro permitirá termos o suficiente para passarmos, confortavelmente, um ano inteiro. Poderíamos até fazer um ano sabático, viajando pela Europa, mas a intenção não é essa, mas sim conseguir um emprego, que vou procurar somente após o primeiro mês, que será reservado para a nossa lua-de-mel. 

É importante se programar para o pior, estar seguro de que, caso demore dois, três ou até seis meses para conseguir um emprego, haverá uma reserva para as despesas básicas. Tudo isso para conseguir realizar nosso sonho de sair do Brasil. 

PASSAGEM AÉREA:
A nossa passagem já está comprada desde julho e fechamos os bilhetes de ida e volta para ambos. Motivos: 

1) Como o visto de turista do meu marido (que, lembrando, não é cidadão) dura três meses, compramos passagem de ida para o dia 29/02, e volta para dois meses depois, até para nos resguardarmos da polícia italiana, que poderia encrencar na hora de entrarmos no país caso a passagem dele fosse somente de ida.

2) Comprar o trecho somente de ida é mais caro do que comprar ida e volta. E não pense que é pouca coisa, não. É significativamente mais caro. Exemplo: só ida ficaria R$ 5.406,30 para cada um. Já a ida e volta pagamos R$ 4.330,00 para os dois. Assim, basta cancelar o trecho de volta, até uma semana antes do voo, para ter reembolso de parte do valor pago. 

ALUGUEL DE IMÓVEL:
 Conseguimos através de um grupo de Facebook, o contato com um brasileiro que foi estudar por 3 meses em Perugia, e sairá do apartamento em que mora no dia 25/02, ou seja, 5 dias antes de chegarmos. Ele nos passou o contato da proprietária, que já reservou o apartamento para nós. 

Alugamos por três meses, e cada mês ficará por 250 euros. O apartamento fica a 5 minutos a pé da praça principal da cidade, tem sala, cozinha e uma suíte no segundo andar (tipo nosso duplex), e o mais importante, já é completamente mobiliado, inclusive com utensílios domésticos.

Nesse tipo de locação, para segurança do locador, o locatário deve pagar a integralidade da quantia referente ao aluguel no primeiro dia em que for se instalar no imóvel. Assim, teremos que dar 750 euros para a proprietária assim que chegarmos.


DINHEIRO EM ESPÉCIE:

Para adquirir euro ou dólar, indico a casa de câmbio Amazônia Câmbio, situada na Brigadeiro Faria Lima, 2931, Jardim Paulistano - telefone: (11) 3167-4310, pois foi a melhor cotação que encontrei no mercado.

Algumas dicas:

- Para compra de moeda estrangeira, o limite é de R$ 10.000,00 por mês ou por semestre, dependendo da casa de câmbio, para que não haja necessidade de declaração no IR do valor comprado.

- A compra deve ser realizada no CPF da pessoa que vai viajar;

- Importante: guarde o comprovante de transação emitido pela casa de câmbio, para o caso de a Receita Federal querer saber a procedência do dinheiro no momento do embarque. Se você não conseguir comprovar a origem do dinheiro, terá problemas sérios.

CUSTO DE VIDA:
sobre este tópico falarei mais pra frente, quando estivermos morando lá, e assim posso passar informações mais precisas, mas só pelo preço de um aluguel, já se pode ter uma ideia do que esperar...

Lembre-se: mudar de país não é difícil, requer coragem e compreensão do custo de vida fora do Brasil, que é muito menor. Vive-se bem, com pouco.